Hyuro |
Juntos, um homem e a brisa viram uma página. - Betty Drevniok
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Testamento
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Raquel Aparicio
Então sem demais descrições, comunico à vocês o que Raquel Aparicio, artista espanhola, comunicou à mim.
TUDO É UM SÓ A TODO MOMENTO SENDO.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Nos Campos de Santo José
que não é mais os eus de agora
um eu que perturba
que assombra
que me apavora
Quando a noite chega leve
E o vento forte assopra,
sentada sozinha na sala
sinto o eu que por aqui mora
sinto o eu seguro, enraizado
que me vem à lembrança na música que toca
um eu tão inteiro
em contra-ponto ao eu fracionado de agora
um eu tão inteiro
ao contrário do vazio dos eus de agora
Quando sento de leve na sala
me assombra o eu que aqui mora
Sinto o vento da noite
Deixando claro os eus agora.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
No Sofá, Vinho
- Eu acho que você seria uma ótima mãe.
Gargalhadas.
- Sério mesmo!
- Sério? Eu também acho que você seria um bom pai. Estava pensando nisso esses dias, mas não disse nada pra você porque fiquei com medo de você, todo neurótico, pensar que eu iria tentar ficar grávida de propósito, ou sei lá. Que bobeira né?!
- Você sabe que eu te admiro pra caramba,né? Como mulher. Mulher com poder de escolha e tal.
- Você me disse isso no primeiro dia que nós ficamos, aí me conquistou!
Olhos.
- Mas é verdade. Você ensinaria coisas como Marx, anarquismo, Caio de Abreu e drogas...
- E você os ensinaria a ganhar dinheiro, indo totalmente ao contrário do que eu falei!
Risos.
- Ow... eu não sou tão assim quanto você fala...
Risos e carinho.
-Eu sei bobão!
Olhos nos olhos.
- Pelo menos eles iriam ter um bom senso crítico: conhecendo várias maneiras de se pensar.
- Ou seriam tão, ou mais desnorteados do que você e eu!
- Do que a gente.segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Carlton Branco
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Nem certo, nem errado, apenas nada ou sobre moralidade social
-Nada - respondia, assim: sem ponto.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
A chegada do/ de um desconhecido
domingo, 21 de agosto de 2011
Vick Evaporup
Vick jovem, linda, solta. Vick já nasceu mulher, e sabia sê-la como nenhuma outra.
Lembro do dia em que conheci Vick: sentadas na sacada da casa de praia da mãe do Fabinho, tomando caipirinha e fumando escondido. Entre gargalhadas, o que mais me chamou atenção nela não foram os olhos muito claros e vivos com olheiras em torno, mas seu cheiro: tinha cheiro de frescor.
Gosto mesmo de lembrar-me dela naquela noite em que nós duas matamos uma garrafa de conhaque enquanto escutávamos Chico e discutíamos sobre a modernidade, existencialismo e um possível ataque alienígena. Vick sempre acreditou em extraterrestres e dizia que ninguém a entendia; eu apenas sorria, deixando que a loucura dela me fizesse acreditar em outros mundos, seres e universos.
Acontece que certo dia banhado a fumaça e chá, Vick evaporou.
Há quem diga que ela se perdeu, mas a verdade é que, neste exato dia, no meio de suas viagens intergalácticas, interdimencionais, ou como queira chamar, Vick conheceu um universo tão maravilhoso que resolveu não voltar mais.
Há também quem chame isso de loucura, eu chamo de realidade. Vick encontrou a realidade a qual ela pertence. Isso que conhecemos como sendo real sempre foi pequeno demais pra ela.
Que saudade da Vick!
Texto inspirado no título http://livredosconceitos.blogspot.com/2011/08/vick-vaporup.html
da Ana T.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Poema de uma manhã que já era tarde ou Poema de uma manhã tardia
“Não sente a criança
Que o céu é ilusão:
Crê que o não alcança,
Quando o tem na mão.”
[Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho]
Nunca soube nadar, contudo me lembro que aos cinco anos de idade conseguia boiar meu corpo inteiro na piscina.
Que sensação gostosa que me dava, a leveza que tomava meu corpo se misturava com o vento e o sol forte que faziam se sentir na minha pele.
Era tudo tão leve, divertido, novo. Era como que voar por cima da água.
Dez anos depois, tentei reproduzir a sensação leve, contudo minha perna afundava, sem permitir que meu corpo permanecesse no topo daquela água.
Tempos atrás resolvi tentar boiar meu corpo inteiro na água.
Para ver se aquela sensação de liberdade, de LEVEZA, se repetiria
Mas não consegui.
Então coloquei apenas meus pés na água
Deixei-os mais leve que eu consegui.
No primeiro momento, encontraram o topo,
Levitaram por alguns minutos.
Mas logo em seguida voltaram a afundar.
Insisti naquela leveza que não me pertencia
Mas eles insistiam em afundar!
Eu os ajudava fazendo força pra que eles permanecessem no topo,
Mas eles insistiam em afundar, em voltar para o chão,
E agora sequer um minuto no topo paravam...
A leveza havia me deixado.
E eu não sabia mais como encontrá-la.
Ah meus cinco anos!
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Quando se deixaram a primeira a sentir falta foi sua buceta. Quem mais daria prazer tão facilmente? Que sexo mais quereria depois do dele?
Experimentara muitas mais bocas, já tinha experimentado outros corpos, feito outros sexos, mas a inevitável comparação, a fazia chamar pelo nome dele, dele que agora partira.
Tirou seu vestido, o abraçou sentindo o cheiro da noite passada. Não cheirava a sexo, mas o cheiro dele, ah... o cheiro dele a fazia suspirar.
Deitada na cama desarrumada, procurava em seu corpo reproduzir o toque dele. O prazer aparecia, mas o gozo não podia ser o mesmo que só o toque da mão dele produzia tão facilmente.
Começou a chorar, correu para o chuveiro, não precisava mais do cheiro que ele deixara em seu corpo depois da última noite.
Passava a mão em cada parte do seu corpo com força enquanto a água corria sua pele. Não queria tirar só o cheiro, mas também as lembranças, as marcas que havia deixado nela depois de tantos sexos, tantas transas, trepadas, amores... abraços. Pegou uma esponja que usava para limpar o banheiro e a esfregou por todo seu corpo. Depois que o sangue começou a escorrer já não sabia se chorava por dor ou prazer.
Logo depois da expressão de dor – tão semelhante a do orgasmo, veio o riso tremulo com leves gargalhadas irônicas que ecoavam pelo banheiro.
A campainha tocou, ele chegara. Não ele que havia partido, mas ele que ela havia procurado pra sanar sua dor.
Sem muita conversa transaram ali mesmo. Coisa rápida, ela gozou antes dele, como de costume, depois virou para o lado, acendeu seu cigarro e dormiu, também antes dele.
Na manhã seguinte transou mais uma vez, o mandou embora, tomou um banho para tirar o cheiro do sexo passado de seu corpo, e sentou-se sozinha e indiferente, com seu café na sala enquanto assistia o canal pornô da televisão.