domingo, 19 de fevereiro de 2012

Pequena Espiral (Narcisista)

Rodando em espiral. Sem nunca conseguir voltar. Seu destino era mesmo ir, não nascera para ficar,
estar,
permanecer.
Nem sabia se acreditava em destino, mas não podia negar quão necessário lhe era o novo para permancer vivendo. Mas assim como a espiral, sentia certa necessidade de ordem, de rotina, era o que a confortava e o que fazia parte dela.
A rotina e a ordem, contraditoriamente, faziam parte de sua essência tanto quanto o novo. Entende agora como é impossível a prever: se você olhar uma espiral do alto, achará que são círculos. Previsíveis sequências de voltas de círculos. Mas a espiral te surpreende com suas voltas que nunca se encontram para complear um círculo.
Então ela era meio incompleta, imprevisível e linda aos olhos de quem boa forma sabe reconhecer. Encantadora, eu completaria: uma encantadora pequena espiral imprevisível a me segurar.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Com ternura, de um grande amor

Ler ao som de Cartola "Acontece".

Estava colocando as coisas do guarda roupa em caixas de madeira e papelão, porque decidira que esse ano iria mudar de vida e, ao contrário das demais promessas ano novo e coisas da vida, estava mesmo decidida, por isso estava a mudar-se de casa, a fim de completar a segunda mudaça drástica em sua vida.
Não pense que se tratava de uma pessoa muito mais racional do que sentimental, criando estratégias e metas para mudar a própria vida, muito pelo contrário, mas acontece que, depois de lhe ter ocorrido a primeira mudança drástica, restava-lhe apenas completar as mudanças da vida.
No meio de suas calças amarrotadas, encontrou uma camisa azul. Abraçou, sentiu - ou inventou, o cheiro naquela roupa, os olhos encheram-se de lembranças, e mais nada. Se fossem outros tempos, choraria de saudade; em passado mais recente, choraria pela ausência desta, mas naquela noite, apenas lembrou, e sorriu muito serenamente enquanto dobrava o restante da roupa, completando emfim, a primeira mudança.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ocaso

O Sol havia ido embora e as nuvens que estavam rosas ficaram acinzentadas e depois cinzas.
As pessoas ao redor observavam, mas não entendiam. Nem mesmo ela, ela que é sem nome, compreendia, mas sentia.
Percebe quão bucólico é o momento em que termina um e inicia outro? Como é difícil descrever a sensação de perder a luz que havia...
Bucólico. Talvez seja a melhor palavra para descrever o que sente alguém ao desprender-se do rosa e mergulhar no cinza e escuro das nuvens que não mais são banhadas pelos raios do Sol.
A noite é sedutora e até riria dessa vã e eterna melancolia que envolve o momento do abandono do dia e desbravamento da noite desconhecida, onde tudo é novo, mas nada é teste, tornando tudo perigoso.
Quem se arrisca a viver no novo? E por que deveria?
Acontece que os anos passam e os olhos não enxergam mais tantas cores, só o que salta aos seus olhos agora é cinza. A cinza escura do pouco que sobrou dos restos de tudo aquilo que você havia juntado ao longo da vida.
Todo ser humano começa dia e termina noite.
Você de remendos que agora é noite e não mais dia, ouça e medita no que digo: somente aquele que se entrega inteiramente à noite pode conhecer a luz da Lua, e fazer da sua noite seu dia, portanto entregue-se à loucura, SUA loucura.